Sexo e cor ainda são os fatores de desigualdade
Veja - 09 de Setembro de 2008
A terceira edição do relatório intitulado Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, divulgado nesta terça-feira, aponta que o sexo e a cor da pele ainda são os "dois determinantes principais" das desigualdades existentes no Brasil. Entre outros destaques, o estudo mostra que cresceu a proporção de mulheres chefiando famílias formadas por casais com filhos. Os números também apontam que os negros entram antes e saem mais tarde do mercado de trabalho, mas ainda se aposentarem com pensões menores. O trabalho doméstico é majoritariamente feminino, negro e informal (sem carteira assinada) e, apesar da melhora da renda média de negros e mulheres, o homem branco - que perdeu renda na última década - ainda ganha mais.
O documento foi realizado com base em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), de 1996 a 2007, em conjunto com a SPM (Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres), Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Unifem (Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher). Os resultados foram divididos nos seguintes temas: População; Chefia de família; Educação; Saúde; Previdência e assistência social; Mercado de trabalho; Trabalho doméstico remunerado; Habitação e saneamento; Acesso a bens duráveis e exclusão digital; Pobreza, distribuição e desigualdade de renda; e Uso do tempo.
Abaixo, algumas das conclusões do documento:
População – Tanto na zona rural quanto na urbana, foi observada a "existência de uma curva ascendente daqueles que se declaram negros na sociedade brasileira", diz a pesquisa. De acordo com os indicadores, 42% das pessoas residentes nas áreas urbanas se declaravam negras em 1996 – quando começavam os primeiros debates sobre a chamada "discriminação positiva" no Brasil. Esse número subiu para 47% em 2006.
Com relação ao envelhecimento da população brasileira, os dados indicam que as mulheres vivem mais e os negros, menos. A conclusão é categórica: a expectativa de vida está relacionada ao grupo de cor/raça e ao sexo. Em 2006, 9,3% das mulheres negras tinham 60 anos ou mais, contra 12,5% das brancas. Em 1993, a proporção era de 7,3% e 9,4%. O texto sugere que essa diferença pode ser explicada por uma "maior vitimização das mulheres negras em decorrência do sexismo e do racismo."
Chefia da Família – Nos últimos dez anos, foi observado um aumento na proporção de famílias chefiadas por mulheres. O índice passou de 19,7% em 1993 para 28,8% no ano retrasado. A situação é mais expressiva nas zonas urbanas, onde 31,3% dos lares têm mulheres na chefia da família. Nas zonas rurais esse número é de 14,6%. A pesquisa também dá destaque para o pequeno crescimento do número de famílias formadas apenas pelo pai com sues filhos. De 2,1% em 1993, passou para 2,7% em 2006.
Educação – Os números ainda mostram que os negros estão menos presentes nas escolas, em comparação aos brancos, além de apresentarem médias de anos de estudo inferiores e maiores taxas de analfabetismo. Os maiores contrastes foram vistos no ensino médio: em 2006, a taxa de escolarização líqüida (proporção da população matriculada no nível adequado a sua idade) era de 58,4% entre os brancos e 37,4% entre os negros. O estudo admite, no entanto, que a diferença se deve ao fato de a população negra se encontrar nas camadas de menor renda, fazendo com que esses alunos sejam pressionados a largar os estudos mais cedo para ingressarem no mercado de trabalho.
Saúde – Os dados do Pnad mostram que há desigualdades no acesso a exames que diagnosticam o câncer entre mulheres brancas e negras. Segundo a pesquisa, 46,3% das negras de 25 anos ou mais de idade no Brasil nunca fizeram exame clínico de mama, contra 28,7% de brancas.
Mercado de Trabalho – Negros entram mais cedo no mercado de trabalho e saem mais tarde, revelou o estudo. A taxa de participação entre a população negra de 10 a 15 anos era de 15% em 2006, comparados a 11,6% entre brancos. Os homens negros são também os que trabalham por mais tempo: 34,7% dos negros com mais de 60 anos estavam ocupados ou procurando trabalho em 2006, contra 29,3% dos brancos da mesma faixa etária.
Quanto às mulheres, houve um aumento na participação do mercado de trabalho. Em 1996, 46% das mulheres estavam ocupadas ou à procura de emprego, enquanto que em 2006 essa proporção subiu para 52,6%. Mas ainda é entre as mulheres e entre os negros que se encontram os maiores índices de desemprego: 11% e 7,1%, respectivamente, contra 6,4% dos homens e 5,7% dos brancos. O documento ressalta que cabe às mulheres negras a maior fatia do trabalho doméstico remunerado no país. Em 2006, 16,5% das mulheres ocupadas desempenhavam essa atividade.
Pobreza e distribuição de renda – Os rendimentos dos homens e de brancos tendem a ser maiores do que os de mulheres e de negros. Em 2006, a renda média mensal masculina era de 885,6 reais, contra 577 reais entre as mulheres. Para os negros, os salários caíam para 502 reais. Segundo a pesquisa, isso reflete as "desigualdades educacionais, da segregação de mulheres e negros em postos de trabalho(...)"
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